Enquanto as taxas de natalidade caem em todo o mundo, um fenômeno chama a atenção dos cientistas: nunca nasceram tantos gêmeos. Pela primeira vez na história, a frequência de gestações múltiplas está aumentando, e a tendência deve continuar nas próximas décadas.
Gestações gemelares sempre foram menos comuns do que as únicas, mas ainda assim fazem parte do ciclo natural da reprodução humana. Em média, uma em cada 60 gestações resulta em múltiplos bebês. Esse fenômeno ocorre de duas formas: quando dois óvulos distintos são fertilizados ao mesmo tempo ou quando um único óvulo fertilizado se divide. Além disso, a hiperovulação — a liberação de mais de um óvulo no mesmo ciclo — pode aumentar significativamente as chances de gravidez múltipla, um processo que se torna mais frequente à medida que a mulher envelhece.
E é justamente esse fator que tem impulsionado o crescimento no número de gêmeos. Estudos da Elizabeth Bryan Multiple Births Centre, da Birmingham City University, no Reino Unido, indicam que a maternidade tardia é o principal motor desse aumento. Entre 2050 e 2100, a tendência é que os nascimentos múltiplos continuem a crescer globalmente.
O histórico confirma essa mudança. Durante o “baby boom” das décadas de 1940 a 1960, quando a média de idade das mães era de 26 anos, a taxa de gestações múltiplas era de 12 a 13 para cada mil nascimentos. Com a chegada dos anos 1970 e 1980, a redução no tamanho das famílias levou essa taxa a cair para dez por mil. Mas o cenário mudou com força nos anos 1990 e 2000. O avanço da idade materna e o crescimento da reprodução assistida elevaram essa taxa para mais de 16 por mil.
Nos anos 2010, políticas para restringir a transferência de embriões reduziram ligeiramente esse número, mas ele permaneceu acima dos 14 por mil. Paralelamente, a busca por fertilização in vitro disparou: em 1991, o Reino Unido registrava 6,7 mil ciclos de FIV; em 2021, esse número saltou para 76 mil.
Tudo indica que esse fenômeno está apenas no começo. O aumento da idade materna e a popularização dos tratamentos de fertilidade sugerem que a era dos gêmeos está longe de acabar.